“Me dê motivo para ir embora”. Foi com a famosa frase de Tim Maia que Gabigol lançou seu novo canal no YouTube minutos após anunciar, em entrevista, que deixará o Flamengo, logo após a conquista da Copa do Brasil. O jogador encerra uma trajetória de cinco anos no clube, marcada por títulos e turbulências. Considerado o principal nome da geração vitoriosa atual, ele se despede com duras críticas à condução da diretoria.
Ainda no gramado da Arena MRV, após o título, Gabigol, que soma 13 troféus com a camisa do Flamengo, expressou abertamente o desgaste na relação com o clube. Desde sua chegada por empréstimo da Inter de Milão em 2019, passando pela contratação definitiva em 2020 no “Dia do Fico”, o jogador e o clube construíram uma história de conquistas e controvérsias.
As negociações para a terceira renovação, no entanto, evidenciaram divergências que culminaram na decisão de não estender o vínculo além de dezembro de 2023.
– Nos últimos anos, tivemos conversas, a diretoria apertou as mãos dos meus pais e a minha, mas houve atitudes que não me agradaram. Fiquei sabendo das coisas por entrevistas de dirigentes em podcasts, não pessoalmente. Conversei com Marcos Braz para renovar por dois ou três anos, mas nunca houve uma proposta formal do Flamengo – desabafou Gabigol no gramado.
Acordo verbal frustrado: por que a renovação não avançou?
No início de 2023, o Flamengo buscava estender o contrato de Gabigol por cinco anos, enquanto o jogador desejava alcançar uma década de clube. Em outubro de 2022, ambas as partes já haviam celebrado um acordo verbal até 2028, com aumento salarial. Dirigentes chegaram a cumprimentar familiares do atleta, que aguardava o contrato para formalizar o anúncio.
Contudo, o contrato não foi assinado. Dias depois, o atacante e seu empresário passaram por um período de silêncio. O presidente Rodolfo Landim teria interrompido a assinatura, citando o desempenho em queda do jogador e os valores acordados como motivos.
Controvérsias fora de campo fortalecem posição de Landim
Nos últimos meses, polêmicas fora das quatro linhas envolveram Gabigol. Em dezembro de 2022, ele foi acusado de tentar fraudar um exame antidoping. Apesar de ter conseguido efeito suspensivo, a situação abalou sua imagem. Em outra ocasião, ao participar do podcast “Podpah”, em dezembro de 2023, ele mencionou que “combinaria” com o Corinthians, gerando especulações sobre uma possível transferência. O então presidente do Corinthians, Augusto Melo, chegou a confirmar que negociava com o atacante.
Uma foto vazada de Gabigol usando a camisa do Corinthians intensificou as dúvidas sobre sua continuidade no Flamengo. Essas polêmicas deram a Landim justificativas para suspender o contrato previamente combinado.
Apesar disso, o Flamengo apresentou uma nova oferta de um ano com aumento salarial de mais de 50%, a qual o jogador rejeitou, reafirmando seu desejo por um contrato longo. O Palmeiras também se interessou pelo jogador, sugerindo uma troca por Dudu, mas sem acordo.
Falta de diálogo e insatisfação com a proposta
Gabigol afirmou que frequentemente era informado de assuntos envolvendo sua carreira por meio de podcasts. Em várias ocasiões, o clube disse publicamente que a última proposta estava mantida. Após a saída de Tite e novos diálogos entre Gabigol e Filipe Luís, Landim chegou a expressar em conversas privadas que gostaria que o jogador permanecesse.
Aos 28 anos, Gabigol sentiu-se desvalorizado pela proposta de um ano de renovação, especialmente após Bruno Henrique, com 33 anos, assinar um contrato de três temporadas. Mesmo com o desejo de continuidade do camisa 99, a diretoria optou por não oferecer um acordo mais extenso.
Divisão na diretoria quanto à renovação
A renovação de Gabigol dividiu opiniões na cúpula do Flamengo. Marcos Braz, que apoiava a permanência, gostaria de fazer da renovação do atacante seu “último ato” na vice-presidência de futebol. Após a conquista da Copa do Brasil, Braz se despediu do jogador com um breve “obrigado por tudo”.
O destino quis que Gabigol conquistasse seu último título com o Flamengo em Belo Horizonte, cidade onde ele jogará pelo Cruzeiro a partir da próxima temporada. O novo clube lhe ofereceu um contrato de quatro anos, incluindo um dos maiores salários do país e bônus financeiros pela negociação.
