Flamengo no palco da história: A gloriosa inauguração do Camp Nou

Henrique Frade em ação pelo Flamengo, na goleada por 4x0 sobre Burnley da Inglaterra, na inauguração do Camp Nou, em 24 de setembro de 1957
Henrique Frade em ação pelo Flamengo, na goleada por 4x0 sobre Burnley da Inglaterra, na inauguração do Camp Nou, em 24 de setembro de 1957

Setembro de 1957. Enquanto a Europa celebrava a modernidade e o esplendor arquitetônico do recém-inaugurado Camp Nou, em Barcelona, o Flamengo fazia história em terras catalãs. Convidado como uma das estrelas das festividades que marcaram a abertura do novo estádio, o Rubro-Negro não apenas honrou a tradição carioca, mas também gravou seu nome entre os gigantes do futebol mundial, com uma vitória inesquecível sobre o Burnley, da Inglaterra, por 4 a 0.

Comandado pelo técnico paraguaio Fleitas Solich, o Flamengo viveu um momento mágico, marcado por técnica apurada, disciplina tática e o brilho individual de craques como Dida, Zagallo e Henrique. Para os catalães, era uma oportunidade única de testemunhar um espetáculo genuinamente brasileiro, que encantaria o público local e ficaria gravado na memória de todos que presenciaram aquela noite.

Ingresso de inauguração do Camp Nou, 24 de setembro de 1957
Ingresso de inauguração do Camp Nou, 24 de setembro de 1957

UM PALCO GLORIOSO E UM REENCONTRO EMOCIONANTE

A inauguração do Camp Nou não era apenas um marco esportivo, mas também cultural. O estádio, projetado para acomodar mais de 90 mil espectadores, simbolizava a ambição crescente do Barcelona de se firmar entre os maiores clubes do mundo. Para o Flamengo, a participação nas festividades era uma chance de reafirmar sua grandeza fora das Américas e reencontrar um velho conhecido: Evaristo de Macedo.

Evaristo, que havia deixado o Flamengo meses antes para se juntar ao Barcelona, já começava a encantar os catalães com seu talento. Seu reencontro com os ex-companheiros rubro-negros foi carregado de emoção e camaradagem, mostrando que, apesar de vestir outra camisa, sua ligação com o Flamengo permanecia viva.

Duca, Jadir, Pavão, Evaristo de Macedo (Barcelona), Ari e Jordan, na inauguração do Camp Nou, no dia 24 de setembro de 1957
Duca, Jadir, Pavão, Evaristo de Macedo (Barcelona), Ari e Jordan, na inauguração do Camp Nou, no dia 24 de setembro de 1957

Na véspera da partida, o Flamengo desfilou no Camp Nou carregando a bandeira brasileira, em uma cena que arrancou aplausos fervorosos da torcida catalã. Era um prenúncio do que estava por vir: uma exibição de gala contra o Burnley, tradicional clube inglês que, embora não estivesse em seu auge, representava um desafio de respeito.

A PARTIDA: UM SHOW BRASILEIRO EM TERRAS CATALÃS

Sob um calor ameno, típico do final do verão europeu, Flamengo e Burnley se enfrentaram diante de uma plateia ansiosa por espetáculo. Desde o apito inicial, ficou claro que o time brasileiro não estava ali apenas para participar, mas para encantar.

Observado pelo Rubro-Negro Dida, o goleiro do Burnley voa pra fazer a defesa
Observado pelo Rubro-Negro Dida, o goleiro do Burnley voa pra fazer a defesa

O primeiro gol veio aos 23 minutos, fruto de uma jogada trabalhada com precisão cirúrgica. Após cobrança de escanteio curto de Luís Carlos, Zagallo cruzou com perfeição, e Dida subiu como um gigante para cabecear sem chances para o goleiro Blacklaw. O Camp Nou, repleto de torcedores catalães, vibrou como se fossem rubro-negros.

Pouco depois, aos 26 minutos, Zagallo ampliou. A jogada foi uma verdadeira obra-prima coletiva: Jadir avançou, tocou para Luís Carlos, que encontrou Moacir. Este, com um drible desconcertante, deixou o marcador para trás e abriu na esquerda para Zagallo chegar batendo forte, no canto.

O Flamengo dominava completamente as ações. O Burnley, conhecido por sua força física e jogo aéreo, parecia perdido diante da velocidade e habilidade brasileira. No segundo tempo, a pressão rubro-negra continuou, e o terceiro gol surgiu de um lance infeliz do defensor Wilton, que, ao tentar cortar um cruzamento, mandou contra as próprias redes.

O quarto e último gol foi o mais belo da partida, um verdadeiro presente de Henrique aos amantes do futebol. Após receber um passe de Moacir na intermediária, o camisa 9 avançou, driblou dois adversários e, com um chute colocado de fora da área, acertou o ângulo. O Camp Nou explodiu em aplausos, maravilhado com a arte do futebol brasileiro.

Jadir e Pavão afastam o perigo no jogo entre Flamengo 4 x 0 Burnley, na inauguração do Camp Nou, no dia 24 de setembro de 1957
Jadir e Pavão afastam o perigo no jogo entre Flamengo 4 x 0 Burnley, na inauguração do Camp Nou, no dia 24 de setembro de 1957

UMA VITÓRIA QUE ULTRAPASSA FRONTEIRAS

O apito final confirmou o Flamengo como o protagonista da noite. A goleada por 4 a 0 não foi apenas um triunfo esportivo, mas também um símbolo da universalidade do futebol e da capacidade do Flamengo de levar sua essência e sua arte para além do Oceano Atlântico.

Para os catalães, que aplaudiram de pé a performance rubro-negra, aquela noite foi uma introdução ao que o futebol brasileiro tinha de melhor. Para os ingleses do Burnley, uma lição sobre a beleza do jogo, que transcende a força e a disciplina.

Henrique Frade em ação pelo Flamengo, na goleada por 4x0 sobre Burnley da Inglaterra, na inauguração do Camp Nou, em 24 de setembro de 1957
Henrique Frade em ação pelo Flamengo, na goleada por 4×0 sobre Burnley da Inglaterra, na inauguração do Camp Nou, em 24 de setembro de 1957

O Flamengo, com sua atuação magistral, escreveu mais um capítulo memorável em sua rica história. E o Camp Nou, em seus primeiros dias de existência, já testemunhava a grandeza de um clube que carrega em sua essência a alma do futebol.

Essa vitória não foi apenas do Flamengo ou do Brasil. Foi uma vitória do futebol como arte, espetáculo e paixão. Que a memória daquela noite inspire gerações futuras e reforce a certeza de que o Flamengo é, e sempre será, um dos gigantes do futebol mundial.

*Fotos retiradas do excelente Flamengo Alternativo.

SHARE